As histórias têm suas particularidades, mas se igualam num mesmo ponto: a falta de prevenção, de um cuidado constante que devemos ter com a saúde. Por isso, o mês de outubro foi escolhido para ser o tempo de uma campanha internacional que lembra a todos sobre a importância da prevenção contra o câncer.
Hoje, liberada das sessões de quimioterapia, a costureira Neide Aparecida Pereira de Oliveira Correia, 58 anos, afirma ter aprendido muito sobre a vida durante cerca de um ano, período desde o diagnóstico da doença que lhe custou a retirada de um dos seios até à alta das sessões de quimioterapia.
“Eu era uma pessoa relaxada e não cuidava de mim, só fui me amar a partir do momento que tive um problema sério. Hoje, eu digo: eu me amo! Caí no precipício e aprendi que nós somos responsáveis por nós mesmos, não devemos ficar esperando marido, filho, alguém te guiar, nos fazendo de coitada para alguém nos socorrer, é a gente que tem que se amar”, ensina Neide que segue o tratamento em outras etapas.
“A pessoa que descobriu um câncer tem que se lembrar que estamos no século XXI e ninguém vai morrer por essa doença a não ser que já esteja em um estágio avançado. Por isso eu digo, hoje, que as pessoas têm que fazer exames rotineiros, se eu tivesse visto antes, talvez, não tivesse nem feito a cirurgia”, cogita a senhora de sorriso largo e imensa vontade de compartilhar sua experiência de vida com outras pacientes da Unidade de Assistência da Alta Complexidade em Oncologia de Corumbá (UNACON/Corumbá), administrada pela Santa Casa de Corumbá.
“Eu chegava aqui e comecei a falar com as pessoas e queriam que elas acreditassem como eu acreditei. Aí falava para os pacientes que estava feliz, que estava conseguindo, pois eu não tinha ninguém para me colocar pra cima em casa onde todos estavam abatidos. Se não fosse a equipe da Oncologia, eu teria desistido. Com a força dela e da equipe, tive alta da quimioterapia. Agora, seguirei em tratamento”, afirma Denise.
O acaso fez com que Edna Campos Garcia, 66 anos, também detectasse que convivia com o câncer. Depois de se acidentar, enquanto era conduzida em uma motocicleta, as dores na parte pélvica surgiram e algo de diferente a levou a descartar que aquilo seria apenas consequência do acidente.
“As dores continuaram e minhas filhas marcaram um médico para mim. Com os exames foi se detectando a presença da doença. No início, não queria me tratar, chegava aqui na porta da Oncologia e não entrava, mas, aos poucos, a equipe foi me convencendo e, hoje, realizo minha última sessão de quimioterapia”, conta a senhora que afirma ter encontrado na UNACON uma segunda família.
Apoio integral
Esse acolhimento com cada paciente é elemento essencial dentro da forma de trabalho da grande equipe multidisciplinar que atende centenas de pacientes cadastrados na Unidade. Atualmente, são 3 oncologistas clínicos, 1 oncologista cirúrgico, 1 médica clínica geral, 2 assistentes sociais, 1 psicóloga, 1 enfermeira, 1 técnica de enfermagem, 2 farmacêuticas, 2 secretárias, além da equipe de fisioterapia.
Esses profissionais são responsáveis por todo acompanhamento dos pacientes desde sua chegada até a cura que, hoje, é uma realidade quando se fala na doença que assombra ainda muitas pessoas em todo o mundo.
De acordo com o coordenador técnico da UNACON/Corumbá, médico oncologista Carlos Bernardo Cola, o câncer não pode ser visto como uma sentença de morte. Dos tratamentos voltados a atacar a doença, Corumbá só não conta ainda com a radioterapia, o que a Prefeitura está buscando resolver.
“Em Corumbá, temos hoje uma estrutura adequada, totalmente satisfatória à necessidade atual do município. Temos, inclusive, capacidade de tratar mais pacientes, caso a demanda aumente. A população está muito bem assistida, não tem tempo de espera para consulta, o fluxo está muito bom”, analisou o coordenador.
Vida saudável também é prevenção
Cola ressaltou que a prevenção precisa ser incorporada na rotina das pessoas e isso vai desde os exames periódicos até a adoção de práticas de uma vida saudável. Ele explicou que, assim como em todo mundo, os cânceres mais incidentes na população corumbaense são o de mama, nas mulheres, e o de próstata, nos homens.
“Toda mulher em idade fértil e com vida sexual ativa tem que fazer, anualmente, o exame preventivo. A mamografia a partir dos 35 anos de idade na ausência de história familiar de câncer de mama. Para os homens, rastreamento de câncer da próstata a partir de 45 anos com os exames do PSA, ultrassom e toque retal. Ao indivíduo que fuma, é necessário acompanha-lo com um raio-x de tórax. Para todos, seria normal uma colonoscopia a cada 5 anos e a cada seis meses exame de sangue oculto”, orienta.
Ele ainda observou que a característica que dá a Corumbá a fama de ser uma das cidades mais quentes do país também é fator que se manifesta diretamente em casos de câncer que atingem a pele. “É frequente devido à exposição solar, mesmo tendo a pele mais escura, as pessoas não se protegem”, apontou o médico.
O médico oncologista não descarta a adoção de hábitos saudáveis como forma de prevenção, a longo prazo, contra a doença. O ritmo da vida moderna influencia diretamente na alimentação rica em gordura saturada, açúcar e sal, vilões para qualquer pessoa.
“O açúcar é o maior pó branco que mais mata na terra, pois é barato, sacia a fome, engana as pessoas. Ele e a gordura saturada são as principais causas de epidemia de obesidade que o mundo sofre. Antigamente, as pessoas passavam fome e, hoje, há uma facilidade em conseguir alimentos com calorias vazias, que contem muito açúcar e gordura saturada e isso está relacionado com uma série de cânceres como mama, endométrio, colón e doenças cardiovasculares. A obesidade deve ser combatida com todas as forças”, alertou ao associar ainda outros hábitos salutares. “Praticar atividade física regularmente melhora ainda capacidade cardiovascular, que é boa para tudo na vida”, concluiu.