Trabalhar com o Consultório na Rua é agir muitas vezes como “mãe”, diz enfermeira

O Dia Internacional da Enfermagem, conhecido também como Dia Internacional dos Enfermeiros, é celebrado em 12 de maio. No Município de Corumbá, enfermeiros e técnicos em enfermagem desempenham papéis fundamentais no trabalho de promoção e prevenção à saúde. São profissionais que atuam independente de outros e também de maneira integrada a outras especialidades da saúde, como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos. Eles atuam em diversos segmentos, favorecendo toda a população, desde bebês até idosos.

 

Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desde 2006, a enfermeira Marjorie Gonçalves Marques Pereira trabalha na Prefeitura de Corumbá desde 2008. Servidora de carreira, Marjorie resolveu se especializar em Saúde da Família e em Gestão em Saúde. No entanto, quando o projeto do Consultório na Rua surgiu em Corumbá, ela logo foi questionada se queria participar do programa. “Eu respondi ‘com certeza’. Eu queria muito trabalhar como enfermeira com a população de rua”, afirmou.

 

Há aproximadamente cinco anos, ela atende pessoas em situação de rua dentro do programa Consultório na Rua, em parceria com o Centro POP, vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social. Por causa disso, resolveu participar de uma capacitação, com duração de quase um ano, na sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Por diversas vezes teve que viajar para a capital carioca a fim de participar do curso que iria aprimorar suas atividades junto à população de rua.

 

Ela explicou que essas pessoas não necessariamente moram na rua, mas, muitas vezes, em casebres. Boa parte tem família e casa, mas optou por viver dessa maneira por causa do vício no álcool e/ou drogas. A enfermeira disse também que o consultório itinerante atende estrangeiros e brasileiros que estão de passagem, mas que acabam fazendo das ruas sua morada provisória.

 

(Foto: Gisele Ribeiro/PMC)

 

Para Marjorie, trabalhar como enfermeira com esse público é “vestir a camisa” e servir como se fosse uma “mãe”. “Não é todo profissional que gosta dessa área, cada um tem seu estilo. Eu gosto desse trabalho. É como se fosse trabalho de mãe porque você faz e sabe que nem sempre terá o retorno que precisa. Não é como em uma UBS fixa, nós somos itinerantes. Na UBS, você pede a pessoa para fazer exames e ela faz, se movimenta, corre atrás, mas as pessoas em situação de rua não. Você tem que pegar na mão, tem que levar,  porque são pessoas que não se importam com a própria vida”.

 

Conforme a enfermeira, é um trabalho que requer muita paciência e desprendimento. Quando a equipe do Consultório na Rua percebe que o paciente precisa de atendimento médico ou de exames, ele é encaminhado, através do carro do programa, até a Unidade Básica de Saúde mais próxima ou é levado ao Pronto-Socorro ou UPA. “Estamos agora com médico uma vez na semana e isso facilita bastante. Essas consultas são realizadas na sexta de manhã no Centro POP. O médico pede exame, nós vamos com o paciente, marcamos, pegamos o paciente e o levamos, funciona bem assim”, contou Marjorie.

 

Para a enfermeira, trabalhar nessa profissão exige muito mais que técnica. “Eu decidi fazer o curso de Enfermagem porque no princípio da minha vida eu fui uma pessoa muito humilde. Minha mãe foi empregada doméstica, lutou muito para poder nos dar estudo. Eu prometi que ia escolher uma profissão que eu pudesse ajudar o próximo e a enfermagem é uma dessas profissões. Muitas vezes, as pessoas procuram os postos de saúde não porque estão doentes fisicamente, mas emocionalmente. Ali, você vai sorrir, vai atendê-las e aquilo para elas já é o suficiente. Não adianta você ser só enfermeira, você tem que vestir a camisa porque faz a diferença a forma como você trata a população, não só na situação de rua, onde estou atuando agora, mas sempre em todas as áreas. O sorriso, o olhar nos olhos, isso faz a diferença. Isso é promover saúde, não só física, mas também emocional”.

 

(Foto: Gisele Ribeiro/PMC)

 

 

Confira matérias da série especial em homenagem ao Dia Internacional da Enfermagem:

*Apaixonada pelo setor de urgência, enfermeira da UPA fala em “adrenalina” no trabalho

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