O Bloco Sandálias de Frei Mariano abriu oficialmente o Carnaval Cultural de Corumbá, nessa quarta-feira, 26 de fevereiro. E, fazendo jus ao nome de Carnaval Cultural, o bloco trouxe para o circuito de rua do samba corumbaense uma das histórias mais impressionantes do folclore local.
Reza a tradição que Frei Mariano teria lançado uma maldição sobre a Cidade Branca, após ser acusado de não pagar o relógio da Igreja que havia construído. Ao ser expulso da cidade, Frei Mariano enterrou suas sandálias em algum local desconhecido e disse que Corumbá só se desenvolveria quando achassem suas sandálias.
Essa é uma das muitas lendas locais que ao longo dos anos povoaram o imaginário popular e hoje fazem parte da tradição carnavalesca da cidade. Tanto que, em 2006, foi criado o Bloco Sandálias de Frei Mariano formado, inicialmente, apenas por funcionários públicos. Criado pela ex-presidente da Fundação de Cultura do Município, Heloísa Urt, já falecida, com o passar do tempo e também pela força de sua história, outros foliões agregaram-se ao bloco que, embora extraoficialmente, chega a ter mais de mil pessoas descendo a avenida, entoando os versos da marchinha a Frei Mariano.
E para saber o que é entrar na história do carnaval cultural de Corumbá só mesmo acompanhando o bloco. Primeiro de tudo: roupas leves, calçados confortáveis e líquido, muito líquido para arrefecer o calor e hidratar o corpo. Depois, se quiser, customizar a camiseta do bloco (o que a maioria faz, em especial as mulheres) e colocar muito brilho, se destacar por algum acessório diferente e por aí vai.
Mas o que não pode faltar, de jeito nenhum, é animação. E foi o que aconteceu durante a descida dos cerca de 800 metros do circuito de rua dos blocos, que vai desde a rua América, onde fica a concentração, passa pela rua Frei Mariano e termina na passarela do samba, na Avenida General Rondon (mais ou menos na altura do cruzamento da avenida com a Rua 7 de Setembro).
E a animação rolou solta para um grupo bastante estilizado e alegre de jovens. Para os cerca de 10 amigos, o que vale mesmo, além da folia carnavalesca, é brincar com essa famosa lenda de Corumbá. Tanto que eles decidiram formar um mini bloco que tem até presidente. E segundo o líder do mini bloco, Gleik Galeano, o nome escolhido para a turma foi “As lambidas de Frei Mariano”. Um dos integrantes, travestido de mulher, Luciano Velasques Oliveira, disse que esse é o segundo ano que a turma sai no Sandálias levando consigo a sátira e a brincadeira típica dessa época, mas ao ser questionado m relação ao nome do grupo, ele questiona e no final define: “Será que é bom falar? Acho melhor não!”, encerra o assunto com uma risada e uma pose para foto.
Por outro lado, o primeiro dia de folia para muitos corumbaenses e turistas, é também o primeiro dia de trabalho para quem quer fazer uma renda extra no carnaval. É o caso da dona Mariana Ribeiro da Silva e de seu filho, Gilberto Ribeiro da Silva. Ela, dona de casa. Ele, pescador profissional. Ambos moram no final da rua Oriental e este ano já é o décimo carnaval que eles aproveitam para garantir um dinheiro extra para o sustento da família. “Há 10 carnavais vendemos água, refrigerantes e cerveja. Temos de aproveitar a oportunidade, porque não dá para pescar e o faturamento cai bastante”, explica Gilberto, confiante que o saldo será bastante positivo este ano.
E lá no meio do bloco, uma figura se destaca. É a camisinha gigante da Secretaria Municipal de Saúde, o Zé Camisinha, que marca a presença dos multiplicadores das ações de prevenção contra DST-AIDS do município, que este ano distribuirão 40 mil preservativos masculinos e 5 mil femininos. Além disso, a Secretaria de Saúde de Corumbá, contará com um estande todas as noites de carnaval, na Avenida General Rondon e material educativo não. Tanto os preservativos, quanto o material educativos serão distribuídos em Ladário e nas cidades bolivianas de Puerto Suarez e Puerto Quijarro.