Um dos maiores patrimônios da população ribeirinha são seus causos e estórias. E, claro, os animais, fieis companheiros de lida e do dia-a-dia. Na comunidade do Castelo, a quase 100 quilômetros do município de Corumbá, um dos personagens mais afamados da região é o cavalo Supra, bicho favorito da fazenda de José Felício de Araújo, o sêo Zequinha, de 78 anos.
A quem quiser acreditar o sêo Zequinha gosta de contar a estória de valentia e lealdade do seu cavalo, que há cinco anos foi trocado por dois novilhos e levado dali por um fazendeiro até a região de Porto da Manga, distante uns 150 quilômetros. “Pois não é que cinco anos depois de ter ido embora ele voltou caminhando? E sozinho!”, diz.
O causo é conhecido por todos dali e também pelos integrantes da equipe do Povo das Águas, que no último dia 26 de abril atendeu 32 famílias (num total de mais de 200 atendimentos) da comunidade do Castelo e cercanias na fazenda Boa Esperança. Foram desde atendimentos médicos, odontológicos e vacinação até cadastros em programas sociais, doação de cestas básicas e muitas atividades lúdicas para as crianças. Tudo realizado na fazenda do Sêo Zequinha.
O filho, Juscelino Araújo, de 32 anos, não só confirma a estória mas relembra como se fosse ontem do dia em que viu o cavalo cruzando a porteira e chegando na fazenda do pai.
“Do Porto da Manga pra cá ele teve que caminhar mais de 100 quilômetros, cruzar o Pantanal e atravessar o rio Paraguai e o Paraguai-Mirim. Chegou aqui todo contente, mas com as pernas e as patas machucadas, cheias de feridas”, recordou.
Verídica ou não, em Castelo a estória é sempre contada para ilustrar até onde a fidelidade e a lealdade de um animal podem chegar. “Tem muita gente que não tem todo esse amor, né”, resume o sêo Zequinha. “Hoje não vendo e não troco mais esse cavalo por nada”.