Com planos de passar da oitava à quinta colocação no ranking mundial da petroquímica, a Braskem retomou as negociações para implementar o polo gás-químico na fronteira da Bolívia com o Brasil, avaliado em US$ 3 bilhões. O empreendimento faz parte de uma estratégia da empresa que prevê, além de aquisições nos Estados Unidos, mais de US$ 10 bilhões em investimentos só em novos projetos pela América Latina.
Vice-presidente da Braskem para a área internacional, Roberto Ramos, revela a intenção de começar a produzir resinas termoplásticas naquele país até 2020. Para isso, condiciona, será preciso começar a construir o novo polo por volta de 2015. A intenção é implantar projetos petroquímicos no México, Peru, Bolívia e Venezuela. "A Bolívia produz 40 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, o que justifica a construção de um polo petroquímico no país, de US$ 3 bilhões", diz.
Para o polo boliviano, o caminho está facilitado pelo menos em um aspecto: comparado com os demais empreendimentos em estudo pela empresa na América Latina, o projeto andino já dispõe de fornecedor e fontes de matérias-primas – no caso, a própria Petrobras, e o gás importado do outro lado da fronteira pelo gasoduto Bolívia-Brasil. A intenção, revela Ramos, é assegurar a separação das frações de etano do gás já enviado para o Brasil. Dessa forma, o projeto tem a vantagem adicional de agregar valor ao produto importado.
Polêmico, e envolto em desconfiança – desde que o presidente boliviano, Evo Moráles, promoveu a expropriação de ativos da Petrobras, em 2005 -, o projeto do polo gás-químico da Bolívia tem motivado pressões diplomáticas do governo vizinho, que deseja acelerar sua implantação. Rumores de mercado dão conta que, sensível aos apelos de Moráles, o governo brasileiro teria repassado as pressões nos últimos meses. O vice-presidente da Braskem, no entanto, nega tais rumores: "Nós não decidimos acelerar projetos por razões políticas."
O projeto boliviano ganhou espaço no portfólio da Braskem no vácuo deixado pelo atraso dos dois outros da Venezuela. Traduzidos por duas fábricas de polietilenos (Polimérica) e polipropileno (Propilsur), foram adiados por problemas na oferta de matérias-primas. "Não há motivos, no entanto, para abrirmos mão desses projetos na Venezuela", defendeu o vice-presidente da Braskem. "O país tem a oitava maior reserva de gás do mundo. É um paraíso de hidrocarbonetos. Por isso, não pensamos em desistir desses investimentos, que são de longo prazo. Além do mais, o risco político é inerente à presença de hidrocarbonetos. Você conhece algum país com grandes reservas de petróleo, com exceção do Canadá, que não apresente risco-político?", indagou.
Reivindicação de Ruiter
A implantação do polo gás-químico foi uma das principais reivindicações feitas pelo prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha de Oliveira (PT), na Carta dos Municípios da Fronteira Pantaneira, entregue aos presidentes Lula e Evo Morales, em janeiro de 2009, quando os dois se encontraram na fronteira. O prefeito corumbaense que coordena as ações de um comitê que discute ações envolvendo as cidades fronteiriças, destacou na oportunidade, que "a integração com a Bolívia é fundamental para nós".
Na época, Lula afirmou que o polo gás-químico beneficiaria diretamente todos os municípios da região pantaneira "O polo vai dar à Bolívia um grande potencial industrial e um setor de ponta da industria mundial, que é o setor petroquímico. E com uma industria gás-química aqui, dezenas de outras pequenas empresas se juntarão de forma que possamos ver a Bolívia e essa região do Brasil se desenvolverem de forma extraordinária", continuou.
No último mês de julho, o prefeito corumbaense reforçou o pedido feito a Lula, durante um encontro no Centro de Convenções do Pantanal, com o embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Fortuna Biato. A reivindicação ocorreu durante a abertura do encontro no Centro de Convenções do Pantanal Miguel Gómez, organizado pelo comando do 6º Distrito Naval da Marinha do Brasil.
Ruiter entregou uma cópia da dos municípios da fronteira pantaneira entregue aos presidentes Lula e Evo Morales. "Trata-se de um documento construído coletivamente ao longo dos últimos anos", observou o prefeito na época, reforçando que as maiores expectativas giram em torno de dois grandes projetos: o corredor bioceânico e o polo gás-químico binacional.
Ruiter lembrou o desejo do presidente Lula de voltar a Corumbá para lançar obras, entre elas a do próprio polo gás-químico binacional. Ele pediu que o novo embaixador torne-se um "defensor deste grande projeto no âmbito do Itamaraty e da Presidência da República". Solicitou também que seja parceiro na solução de outros problemas que ocorrem na faixa de fronteira.