Fotos: Prefeitura de Corumbá |
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Chuva, frio e blecaute. Nada disso foi suficiente para tirar o brilho da festa. O Arraial do Banho de São João movimentou o Porto Geral de Corumbá e, mesmo com a queda de energia, festeiros desceram a Ladeira Cunha de Cruz para banhar o Santo nas águas do rio Paraguai. A noite foi completa, com direito a uma apresentação da quadrilha formada por alunos da Universidade da Melhor Idade (UMI), da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), pau de sebo, tenda mística, muito artesanato, comidas e bebidas típicas, além de um grande show com a banda Barra da Saia, que agradou o público presente.
A festa começou cedo nas casas das 102 famílias de festeiros, cadastradas pela Prefeitura Municipal, através da Fundação de Cultura e Turismo (Superintendência de Turismo). Mesmo com a queda de temperatura, a população corumbaense se preparava para a descida ao Porto Geral e participar do banho de São João no rio Paraguai.
A chuva que caiu por volta das 19h20, também não atrapalhou. Muito menos o blecaute que deixou o Porto Geral sem luz por cerca de uma hora. A Ladeira Cunha e Cruz, pouco a pouco, foi ocupada pelos festeiros que desciam com seus andores, em direção à prainha do rio Paraguai. Tudo criteriosamente registrado pela Superintendência de Cultura, como parte do acervo fotográfico do Banho de São João, que vai integrar o processo em que a Prefeitura reivindica junto ao Iphan, o título de Patrimônio Cultural Imaterial.
Banhar o Santo nas águas do Paraguai, é uma tradição secular. A festa foi trazida pelos árabes na década de 80, do século 19. Epifânia da Silva Bastos, 78 anos, continua uma tradição de família. Há mais de 60 anos, ela recebeu a incumbência de manter os festejos de sua tia, Laurinda Tomásia da Silva. Mas, antes, com apenas 9 anos de idade, já ajudava a tia com os preparativos.
Não sabe informar ao certo quando tudo começou. Lembra que o início de tudo foi com seu avô, Cassiano da Silva Santos. “Quando desço com o andor para banhar o Santo no rio Paraguai, sinto uma firmeza pedindo paz, tranquilidade para o mundo inteiro”, enfatiza, para em seguida lembrar uma das graças alcançadas. “Estava muito doente e São João me deu força para fazer a festa em 2008”.
Epifânia lembra que a sua festa tem uma grande importância. “Reúne toda a família. Daqui, de Campo Grande, Brasília e até de Santa Cruz. Este ano, infelizmente, minha filha, que mora em Brasília, não teve como vir. Mas ela está presente, espiritualmente”.
Lembra o ex-prefeito Otacílio Faustino, amigo de seu avô e que muito contribuía com a festa da família. Destaca também o atual prefeito Ruiter Cunha de Oliveira “que está nos dando apoio necessário para continuar a festa”.
Força para continuar
Outro festeiro é o radialista Pedro Paulo Miranda, o Pepê. Ao lado da irmã, Rita Joana, os dois continuam o cortejo junino iniciado pela mãe, dona Carlinda Miranda, da Tenda Espírita Caboclo Estrela do Norte. Conforme ele, tudo começou com uma promessa pedindo a São João Batista, saúde para o filho. O pedido foi alcançado e, partir de então, a mãe começou a organizar as procissões que levam a imagem de São João, sobre um andor, para ser banhado nas águas do rio Paraguai.
“Seriam sete anos, inicialmente, mas teve continuidade e, hoje, eu e minha irmão estamos dando continuidade à festa iniciada pela nossa mãe”, diz. Dona Clarinda faleceu em dezembro de 2001.
Pepê diz que a festa ganhou proporções. Acontece no bairro Nossa Senhora de Fátima, na Dom Pedro I com a Major Gama. “Durante a noite do dia 23, reunimos cerca de 2.500 pessoas. Antes era em casa. Cresceu e tivemos que fazer na rua mesmo”, comenta.
A descida para o banho do Santo nas águas do Paraguai é uma procissão. Tem até carro de som. O conhecido Águia de Fogo segue em meio a uma multidão de aproximadamente 800 pessoas. “Nem todos descem. Muitos ficam no local da festa, no baile. Por isso sempre fazemos com dois conjuntos. Um que desce no Águia de Fogo e o outro que fica no local, animando o povo”, enfatiza, lebrando que o baile vai até amanhecer o dia.
O radialista afirma que, há cada ano, sente “emoção renovada. Cada ano é uma emoção nova. A gente pensa até em parar, mas quando desce, banha o Santo, sobe a ladeira, todo molhado, a gente sente uma emoção forte. Não dá para parar. Enquanto a gente tiver forma, vamos continuar”.